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Carlos Vila, Diretor Comercial da DANOSA

“O papel da distribuição é fundamental para a venda dos nossos produtos, e esta é plenamente eficaz”



Licenciado em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade de Barcelona e possuindo uma acreditação num programa de Direção de Empresas pela IESE, o seu percurso profissional teve início em 1989, no setor de produção de materiais para impermeabilização e isolamento, do qual, nas suas palavras, “não se afastou”.

     Ainda que inicialmente se encontrasse mais ligado às áreas das finanças e dos projetos de investimento, grande parte da sua trajetória profissional desenvolveu-se na área comercial-marketing, tanto nacional como internacionalmente.

Durante todo este tempo, conta-nos Carlos Vila, “pude verificar uma adaptação e evolução do setor, a todos os níveis, sendo que a melhor parte é poder continuar a testemunhar o momento de grande transformação que vivemos”.

 

 

Felicidades pelo seu novo cargo de presidente da AIPEX...

Muito obrigado. Sem dúvida que se trata de uma enorme responsabilidade, principalmente por coincidir com o momento atual, em que o isolamento se tornou num elemento-chave na construção, uma vez que a eficiência energética e a sustentabilidade consistem nos pilares sobre os quais a construção no futuro se irá alicerçar e, neste sentido, o XPS é crucial. Para além disso, a ajuda dos fundos europeus face ao empreendimento de ações de reabilitação dinamizará fortemente o nosso setor.

 

O que é a DANOSA?

A Danosa é uma empresa espanhola de origem familiar, que iniciou o seu percurso nos anos 60. Numa fase primitiva, a atividade centrava-se no fabrico e venda de impermeabilização betuminosa, no entanto, com o passar dos anos, fomos diversificando a nossa ação, tanto a nível de gamas e soluções, como a nível geográfico. Atualmente, encontramo-nos presentes em mais de 70 países, contando com presença local em 7 países, através de filiais próprias:  no Reino Unido, em França, em Portugal, em Marrocos, na Colômbia, na Índia e no México.

     Dispomos ainda de 5 centros de produção: 2 em Espanha, no município de Fontanar, na província de Guadalajara, e em El Padul, em Granada; 2 em Portugal (Leiria e Lisboa), e um na Índia. Desempenhamos, em paralelo, a atividade relacionada com a reciclagem de todo o tipo de materiais plásticos, por meio de duas filiais industriais 100% Danosa, uma das quais se situa na unidade industrial principal de Fontanar, e a outra na área de Lisboa.

     É importante sublinhar que na Danosa oferecemos soluções para melhorar a envolvente dos edifícios, privilegiando, consequentemente, o bem-estar de quem os utiliza ou neles habita.

 

Quais são as áreas de atividade da empresa?

A nossa área de atividade abrange tanto novas construções como reabilitações, dispondo de uma vasta gama de produtos classificados do seguinte modo:

-Impermeabilização asfáltica, sintética, e líquida.

-Acrílicos, poliuretanos, e poliureias.

-Isolamento Térmico: XPS, EPS;

-Isolamento Acústico, Drenagens e Geotêxteis, tanto para efeitos de construção civil como para obras públicas.

-E argamassas: Revestimentos Técnicos, Autonivelantes, Revestimentos de Fachadas, Adesivos cimentícios, de Rejuntamento de Alvenaria, e Betão projetado por via seca.

 

Quais as evoluções pretendidas e perspetivas de futuro da DANOSA, a curto e a médio prazo?

Nos últimos anos temos investido fortemente no setor do isolamento térmico, bem como na incorporação de novos processos de reciclagem. Atualmente, uma grande percentagem dos nossos produtos envolve, na sua produção, percentagens significativas de matérias-primas recicladas, atingindo, em certos casos, os 100%, de que é exemplo o nosso isolamento térmico XPS Danopren.

     O nosso objetivo é manter esta filosofia de investimento face ao futuro, continuando ainda a desenvolver de um ponto de vista industrial as vertentes de negócio em que temos apostado mais recentemente.    

     Outra ambição da empresa é continuar a caminhar no sentido da consolidação do negócio internacional, por meio das nossas filiais.

 

Que desafios enfrenta a indústria relacionada com a sua presidência da AIPEX?

Em primeiro lugar é importante realçar que o nosso compromisso consiste em unir esforços com o objetivo de alcançar cada vez mais e melhor, cumprindo com os requisitos técnicos cada vez mais exigentes definidos pela legislação e, enquanto fabricantes de isolamento, promover e contribuir a melhoria da eficiência energética dos edifícios.

     Respondendo à sua questão, sem dúvida que um dos desafios do setor das edificações em Espanha, é atingir um ritmo de reabilitação de 300.000 casas anualmente, pelo ano de 2030, com o objetivo de redução do consumo energético e das emissões de CO2.

     A indústria do XPS tem de contribuir positivamente a favor deste objetivo, uma vez que o nosso âmbito de ação abrange toda a envolvente do edifício. É-nos possível isolar as paredes subterrâneas, as coberturas, as caixas de ar e, sobretudo, o nosso isolamento possui propriedades que o tornam único relativamente ao sistema SATE (Sistema de Isolamento Térmico pelo Exterior). Deveremos assistir a um crescimento exponencial deste sistema nos próximos anos, em consequência dos objetivos de descarbonização, declarados a nível europeu.

     O XPS já possui um lugar fixo e é reconhecido em muitas aplicações no âmbito das edificações, no entanto, deverá consolidar-se noutras vertentes que terão grande relevância, como os sistemas de isolamento pelo exterior (SATE), de onde podemos beneficiar bastante mais do que na atualidade.


“A eficiência energética e a sustentabilidade consistem nos pilares sobre os quais a construção no futuro se irá alicerçar”

 

Portugal é um país com boas práticas de isolamento térmico e acústico ao nível da construção?

Temos de ser realistas e dizer que, de forma geral, não. Não obstante, grande parte das nossas construções são antigas e estão agora a ser restauradas. Aquando da sua construção inicial, não existia tradição de isolar os edifícios em Portugal, apesar das condições climatéricas consideráveis em grande parte do seu território, quer no inverno, quer no verão. Ainda assim, as exigências técnicas ao nível regulamentar, no que respeita ao isolamento térmico, progrediram ao longo dos últimos anos, podendo-se afirmar que cada vez mais a nossa construção valoriza os critérios de bem-estar, conforto e eficiência energética. O nosso parque edificado consome uma quantidade de energia absolutamente inaceitável, facto do qual hoje nos encontramos totalmente conscientes.

 

O que implica para o setor que Portugal se proponha, segundo o RNC2050 - Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, a descarbonizar a sua economia antes de 2050? Será esta uma meta alcançável?

Trata-se, sem dúvida, de um objetivo bastante ambicioso. Durante os últimos anos, o número de edificações reabilitadas em Portugal ronda os 4.800/ano. Para alcançar o objetivo proposto, este ritmo teria de ser multiplicado por mais de 10, sendo para isso necessários recursos de várias naturezas, que neste momento não se encontram disponíveis em território nacional.

Prevê-se que parte dos recursos económicos irão resultar de ajudas da União Europeia, que terão de ser bem geridas, fornecendo às famílias possibilidades para estas intervenções de reabilitação. Sobretudo, é crucial a existência de mão-de-obra qualificada suficiente (atualmente muito escassa em Portugal), e que na sua ausência poderá constituir um entrave ao alcance do objetivo. Neste sentido, a formação possui um papel central, sendo as entidades estatais, a distribuição profissional e o apoio dos fabricantes fundamentais. Para que se consiga alcançar esta meta é inevitável focarmo-nos na profissionalização do setor, intensificando a formação de novo pessoal qualificado.

 

Tem confiança nas ajudas relativas às políticas para a promoção da eficiência energética provenientes da UE?

São, sem dúvida, o motor para a dinamização do setor; no entanto, tal como anteriormente referido, ainda mais importante será aplicá-las de forma correta, fazendo-as chegar a quem realmente as utiliza. Estas ajudas chegarão ao utilizador final, que é aquele que, em última análise, opta por reabilitar, ou não, a sua casa. Deste modo, há que dar a conhecer as referidas ajudas, e facilitar o acesso às mesmas, contando ainda com instrumentos financeiros que as agilizem.


“Na Danosa, concentramos os nossos esforços no sentido de contribuir para esse objetivo e dispomos de uma plataforma de formação ao serviço da distribuição (Danosa Training)”

 

Qual o papel da distribuição na venda dos seus produtos? No seu ponto de vista, é eficaz?

O papel da distribuição é fundamental para a venda dos nossos produtos, e esta é plenamente eficaz. Passo a explicar: tradicionalmente, a distribuição era encarada como um negócio ao qual se podia recorrer para comprar um simples produto, no entanto, esta visão sofreu uma volta de 180º, pelo que, neste momento, a distribuição não só dispõe de um stock e de uma variedade de produtos, bem como presta um serviço completo de aconselhamento dos clientes, sejam eles os autores do projeto, construtoras, instaladores ou particulares.

Tem-se verificado um investimento significativo da distribuição em Portugal na formação, o que corresponde a um elo indispensável no processo de construção. Na Danosa, encontramo-nos plenamente conscientes deste facto, e concentramos os nossos esforços no sentido de contribuir para esse objetivo.

 

Otimista relativamente ao futuro?

 A 100%. Estamos a testemunhar a enorme transformação do setor da edificação e, em particular, da distribuição, que recebeu de braços abertos os processos de digitalização e profissionalização, projetando as potencialidades da edificação. Por outro lado, o nosso setor não ocupa um lugar central durante a crise que vivemos, muito pelo contrário, tendo sido útil todo este tempo de pandemia para se verificar um salto qualitativo bastante significativo. Adicionalmente, os fundos europeus e o plano de descarbonização do nosso parque habitacional serão dois grandes dinamizadores do nosso setor.

O futuro está nas nossas mãos e consiste, inevitavelmente, na continuação da elaboração de projetos e fornecimento de soluções integrais tendo como foco a construção sustentável.

Ver desenho da entrevista Jornal dos Armazens 14

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